sexta-feira, 10 de julho de 2009

décadence sans elegance

"Eu queria poder parar de ser jovem. Ver a juventude partir seria uma coisa bonita, ver o que ela valeu, sua vaidade, dar a última olhada pra ela e então cruzar para o outro lado do tempo"
Gregory Corso


Quando eu era o tal
(When i was cool) talvez não seja um grande livro exatamente pelos motivos que seu autor, Sam Kashner, gostaria. Mas para mim são justamente as suas falhas que trazem a beleza e honestidade da coisa.

Kashner foi o primeiro aluno da delirante Jack Kerouac School of Disembodied Poetics
, escola de poesia fundada pela "alta cúpula" dos escritores beats . Pelos escritos dá pra ver que Kashner foi mais eficiente em cuidar do filho doente de Willian Burroughs, tentar manter Gregory Corso longe da heroína e datilografar poemas de Allen Ginsberg do que realmente aprender poesia. Sua escrita é meio pobrinha. Mas a graça está nos fatos: bom-moço judeu perdido em uma universidade budista vendo de perto seus ídolos literários (possivelmente as pessoas mais loucas que o século passado já produziu) na luta para manterem-se lúcidos e enfrentar a velhice com, pelo menos, uma certa dignidade. Chega a comover.

Além da diversão que é ter em mãos praticamente a revista Caras da geração beat ,o livro te faz pensar muito em decadência, integridade e opções de vida. Sam Kashner queria ser poeta e para isso foi procurar seus ídolos na Jack Kerouac School. Ele se assustou ao encontrar um amontoado de carne, cabelos brancos, desilusões, neuroses, inveja e ressentimento. O velho truque de descobrir que o seu ídolo pode ser um babaca aqui fica interessante porque em várias horas a gente se pergunta se o cabaço não é o próprio Kashner que parece tão fora de lugar, tão resistente a tudo que seria melhor ter ficado em casa.

Até porque, se na juventude o aspirante a poeta além do choque moral parece se incomodar com algumas concessões que os beats fazem para sobreviver (principalmente Allen Ginsberg, o mais pop de todos), sua derrocada também chega. Kashner vira professor universitário, jornalista (a decadência em estado puro) e desiste da poesia porque ficção dá mais grana. Aliás, o livro que cheira muito a caça-níqueis só foi publicado depois da morte do último personagem central , o Gregory Corso. Senso de oportunidade ou vergonha de seus mestres? A Anne Waldman, que continua viva, ele simplesmente ignorou. Talvez porque ela sempre tivesse se mostrado tão indiferente a ele que não havia como decepcioná-la.

No fim de tudo, como diz aqui, o Sam Kashner nunca foi o tal. Só um garoto achando que queria ser beat, descobrindo que não servia pra coisa e perdendo ilusões. Muitas. E isso nunca pode ser muito bonito, mas é a real.




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